terça-feira, 23 de março de 2010

Eternamente João de Barros

Hoje perdi uma pessoa muito especial, sei que nem jornais ou TV vão mostrar a importância do que o Senhor João de Barros teve em minha vida. Por isso resolvi escrever este post, não pra homenagear a sua morte, mas pra prestigiar a o momento da vida em que viveu.
A última música que ele cantou pra mim e foi por telefone:

“Manaquiri, manaquiri, esqueci do cheiro-verde, mas eu não me esqueci de ti...”

Meu bisavô João de Barros foi um homem do interior, passei a madrugada toda aos choros e lembrando do que ele foi pra gente. Fiquei procurando lembrar de algum momento em que ele esteve triste ou zangado... Não encontrei nenhum.
Ele era cego do lado esquerdo e não enxergava direito do lado direito, mas eu me lembro que ele guiava sozinho sua canoa nos interiores de Manaquiri. Geralmente, ele nos visitava à noite no sítio da minha vó e eu, criança perguntava:

“- Vó como ele consegue remar até aqui que é lonjão e tem um monte de árvore pra atrapalhar?
- Ele é homem do interior – dizia ela”


Sou orgulhosa de ter tido um bisavô como você, eu queria ter tido a oportunidade de ter filhos e tê-los apresentados a você, sei que eu já lhe agradeci bastante por ter cuidado de minha vó e de minha mãe, mas vou tornar público este sentimento.
Domingo, agora conversei com ele, parecia que ele sabia o que ia acontecer...

“– Quando eu me for você não pode chorar
- Não vô, o senhor é eterno e ainda tem muito o que viver!
- As coisas não são assim, a gente se vai
- Certo, mas eu lhe amo e domingo que vem eu estarei com o senhor e vamos curtir o dia...
- Se eu não estiver eu só quero que você seja feliz!”


Era pra eu estar com ele neste domingo e não ter marcado pro próximo, era pra eu ter dado mais valor pra isso, pra esse momento. Agora eu entendo o que é não se despedir das pessoas amadas...

Obrigada vô por ter me mostrado que a felicidade não está em riqueza materiais...

Obrigada por nunca saber falar meu nome e ter sempre me chamado de “Nathalyce”...

Eu não vou esquecer os dias em que me fizeste sorrir ou me sentir orgulhosa...

Não vou esquecer o amor de pai que teve por minha mãe...

Obrigada pelo amor que meus dois vôs não me deram...

Desculpa por nunca ter aprendido a remar e por ter medo de boto...

Já perdi pra morte algumas pessoas da minha família, amigos queridos, mas esse sentimento triste é a primeira vez que sinto, sentir frio no calor, sentir o coração diminuir, mas o pior de tudo é chorar por sentir saudade de alguém que eu sei que não mais poderei ver e nem mais conversar...
Mas como ele me disse no enterro da minha bisavó: “Para as pessoas queridas a gente chora só um dia e nos outros a gente sorrir porque se essa pessoa foi querida é porque ela fez muita coisa boa...”
Então hoje é meu dia vô, hoje eu vou chorar por perder você, mas amanhã prometo sorrir por você...

Te amo!

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